Em menos de três meses, Regina viu falirem seu casamento de
oito anos, e a empresa onde trabalhou por quase uma década. Encaixotando as
coisas que lhe restaram, mesmo sem saber ao certo seu novo endereço, encontrou
um livro deixado pelo ex-marido. Encostou-se na janela e começou a pincelar os
olhos na história da rainha Himiko.
Com a guerra perdida e a iminência de sua morte pelas mãos
dos inimigos, Himiko foi consultada por seus servos sobre o que gostaria de
fazer. Himiko pediu que lhe fizessem o cabelo e o adornassem com sua presilha
de esmeraldas – Majestade, porque se preocupar com isso agora? Eles vão invadir
o palácio! – desesperou-se Yume – É o mais próximo da honra que podemos chegar
agora – respondeu a rainha soltando os longos cabelos negros.
“O mais próximo da honra”, repetiu Regina. O que é honra em
meio a tanto sofrimento e humilhação? Honra, descobriu Regina, é a sua joia
rara que não pode ser ofuscada nem mesmo pela lama. Honra é a verdade
silenciosa que vive dentro do seu espírito. Honra é o melhor que a vida lhe
ensinou, seu livro sagrado mais íntimo, a verdade sobre quem você é, apesar da
dor.
Nade para cima. Enquanto não surge um emprego melhor,
coloque flores na sua mesa. Durante a noite silenciosa de insônia, aproveite
para organizar os sapatos. Se estiver se sentindo só, bata na porta do vizinho
e pergunte que música incrível é aquela que ele está ouvindo. Pergunte-se a
cada quinze minutos, “O que eu posso fazer agora para me aproximar da minha
própria honra?”. Pergunte-se e responda com um passo elegante, adiante.
Se não há dinheiro para malhar, corra, roube aquela
bicicleta que a sua irmã encostou na lavanderia, marque aulas experimentais em
quatorze diferentes academias. Se não pode viajar para longe, vá conhecer seu
próprio bairro, vá tirar fotos nos prédios mais antigos, seja turista da sua
própria cidade. Entre uma foto e outra, pergunte-se, pergunte-se. Quando
estiver doendo, quando não conseguir pensar direito, quando você não se lembrar
mais quem verdadeiramente é, pergunte-se como pode chegar bem pertinho da sua
própria honra. E a resposta será sussurrada no seu coração: “Vivendo…vivendo,
Regina”.
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