terça-feira, 16 de novembro de 2010

A dura vida dos que voltam à academia

Eu tenho essa relação com atividade física que é assim, uma coisa meio estranha. Porque eu posso passar anos totalmente sedentária, sem a menor vontade de malhar/correr/jogar, como também consigo ficar grandes períodos pensando/respirando/vivendo para aquilo.
Depois de três anos longe de qualquer exercício maior que sexo – que, convenhamos, pode ser um baita dum exercício -, chegou a época de virar uma fitnessholic novamente. A vantagem é que ficarei extremamente gostosa (e nada modesta); se vc não acredita, aguarde uns meses e verá. A desvantagem é que eu deixarei de dormir e comer batata frita (entre otras cositas más) porque o todo poderoso treino não permite.


Enfim. É claro que, antes de atingir esse nirvana da esteira, tive que passar por uma grande dose inicial de humilhação, comumente conhecida por Avaliação Física da Academia.


Eu entendo muito bem o motivo de nos obrigarem a fazer a avaliação física: nego quer alguma evidência precisa de que são pequenas as chances de eu ter um piripaque enquanto aqueço na bicicleta. Mas não é só isso; trata-se também de um ritual prévio necessário para que vc passe a adorar o deus da malhação (e eu não estou falando do Fiuk).
Resumindo: é uma maneira de dizer que vc está gordo e precisa emagrecer com fundamentos técnicos.

O processo começa com pesagem e medição de altura. Eu havia me pesado 15 minutos antes da avaliação e, portanto, sabia muito bem os números que a balança ia marcar. Ainda assim, fiquei espantada por ouví-los na voz de outra pessoa. Porque não é fácil ouvir que vc está gorda na forma de números. E, não obstante, descobri ainda que sou quatro centímetros mais baixa do que imaginava. Double fail.

Daí que o segundo passo é a medição das gorduras do corpo com uma pinça. A pessoa, na maior intimidade, sem te preparar para o pior, vai e agarra partes roliças da sua anatomia com uma pinça chamada adipômetro, separando banha de músculo. E ela não faz isso em apenas um local, mas em três: lateral da pança, molinho do braço e frente das coxas.


Aí fica aquela coisa: vc e um total estranho conferindo os três dedos de capa de gordura que tem na sua perna. Gostoso. Situação super natural e confortável.
Tudo com o intuito de se chegar a um número mágico, o seu índice de gordura corpórea. Um número que diga: se vc fosse espremido num tanque, quantos porcento seriam de gordura? O meu resultado foi 24%. Um quinto quarto do meu corpo é banha pura. Analisa isso.
Vc estuda montes de anos, aguenta chefe turrão no trabalho, marido enchendo o saco, jornal com mijo de cachorro e, no fim, vc é 24% de gordura. É só isso o que importa.


Aí tem a segunda parte, a da esteira. Essa é a melhor.
Te colocam numa esteira por doze minutos para CORRER. Mas não só correr: correr a velocidades que AUMENTAM automaticamente. E chegam até, seila, muitos quilômetros por hora. Tantos que vc não consegue TERMINAR o teste. Olha que mágico. E tudo isso com uma máscara de piloto do Top Gun grudada no rosto (kkkkkkkk), te asfixiando lentamente.
É um deleite só.


Essa é a humilhação inicial. Agora vou te contar das pequenas humilhações diárias, que são em doses um pouco mais homeopáticas.
Essa academia em que estou malhando só tem deusa. Sabe modelo de propaganda de cerveja? Então. Todas elas fizeram matrícula nessa academia e malham comigo. Para vc ter uma ideia, eu malho com a seca da Grazi Massafera (nos encontramos no vestiário, BFF).


E aí é aquela coisa. Elas de top e calça CLARA, mega atochada na bunda perfeita, eu de bermuda e camiseta. Elas na aula de local com caneleiras de 12 kgs em cada perna, eu sofrendo com as caneleiras de 2 kgs. Elas de piercing nas barrigas perfeitas, eu escondendo o pneu Michelin. Hahahaha, delícia. Heróico. This is Sparta.

Mas eu sigo com fé. Tanta fé que sábado faço minha primeira prova:
vou correr os 5k da Fila Night Run.
Torçam por mim.
(Rachel Juraski)

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